História
Conheça a nossa históriaSituado na margem direita do rio Paiva, a freguesia de Santa Leocádia de Travanca talvez deva a origem do seu núcleo populacional original aos montes vizinhos e às suas fortificações castrejas, de cuja existência nos fala ainda hoje a toponímia da região.
A Nordeste, por exemplo, fica o Monte do Castelo (vigilante guardião, também para Moimenta e Tarouquela). A Nascente, o que ainda há dezenas de anos se dizia, Castro de Aire (que nada tem a ver com o Castro Daire actual) e também o Viso (designação normal para Castelo e Castro).
Estes povoados castrejos, ainda por investigar na área circundante à freguesia, correspondiam a um “habitat” datado do primeiro século a.C. e perdurante até ao segundo e por vezes terceiro da nossa era, portanto contemporâneo das invasões romanas nesta parte ocidental da Península.As populações viviam amuralhadas em sítios altos, organizadas por famílias extensas, dedicadas fundamentalmente à pequena agricultura de subsistência e ao pastoreio de pequenos rebanhos.Este “habitat”, foi tido pelos romanos como demasiado hostil e agressivo, dado que dele nada lhes interessava.
Interessava-lhes, sim, que as populações vivessem a meia encosta e sobretudo que agricultassem os vales férteis e as terras baixas, onde mais facilmente poderiam implantar uma economia de excedentes cerealíferos e também imporem um controlo administrativo e fiscal. Assim desviaram as populações dos seus locais originais, integrando-as num novo “habitat”.
Momento de radicais transformações para o homem, com consequências decisivas no seu futuro.Travanca terá seguramente derivado desse ordenamento imposto e, se bem que parece difícil saber donde lhe veio o nome, não é difícil supor que tenha derivado do nome dum grande proprietário hispano-romano que por aqui tenha organizado uma “villa”, tal como Gatão (“villa” de um Gattoni).
Será assim um topónimo de origem germânica, como muitos de que temos exemplo nesta região do País.A área da actual freguesia, antes da Nacionalidade, deveria estender-se mais para sul, abrangendo parte de Canelas e também a de Cornes. Não temos elementos na documentação que nos permitam identificar o momento em que Travanca finalmente definiu os seus limites.
De facto, em 1139, fez-se uma doação ao filho do fidalgo Afonso Pais, duma “villa” de Cornias que anteriormente era de Travanca. Deixara de o ser, segundo o documento, mas Travanca continuava uma sede de circunscrição, derivada da inicial “villa” rústica e pela qual se interessava a fina flor da nobreza de Ribadouro. Entre o século XI e XIV aparecem de facto, como senhores de Travanca, os da família de Ramiro, ou Ramires, inicialmente protegida por Garcia, rei da Galiza.
Uma descendente desta família Ramires, Leodegunda Odores, de seu nome, doou os seus bens em Travanca, ao Mosteiro de Pendurada.A documentação da época, diz-nos que também Egas Moniz tinha por aqui as suas propriedades que “honrava”, isto é, isentava do fisco geral devido à coroa. Tinha pelo menos dois casais, o que talvez tenha sido alargado à vila de Travanca no seu todo, dado o prestígio da família.
Os restantes casais pertenciam a instituições diversas, como mosteiros e senhorios nobres.Ortigosa (ou Urtigosa) era também uma honra, de um outro Egas Moniz, descendente e parente afastado do anterior. Ao que parece, estas honras pertenciam ao território da Anégia, uma vasta região que ia do Alto Ferreira e Sousa, até Entre-os-Rios e, passando o Douro, até às terras de Montemuro.
É um pouco difícil determinar todas as estirpes familiares que por venda, doações, heranças e outros modos, aqui senhorearam terras e casais.No entanto, tudo isso se passava no foro civil, porque ao menos em parte, indiferente a tudo, Travanca tinha a sua antiquíssima paróquia de Santa Leocádia, uma mártir de Toledo, cujo culto poderá para aqui ter sido trazido desde os tempos dos primeiros concílios peninsulares. A igreja estava em terra da coroa (reguenga), mas era padroado das grandes famílias proprietárias locais.